24 de dez. de 2011

Telas



eu que te conheci
hoje só sei
do seu rosto pelas
fotos do seu facebook.

e quem acredita
nos caminhos
e tropeços pelos caminhos
que passamos.

nas flores e nos perdões,
eu te dei e te pedi.

mas tudo hoje parece virtual
até seu cheiro é megapixel
e o brilho dos seus olhos
eu configuro pela
tela led 15,5 polegadas
do meu notebook sony vaio
branco intel core
windows 7.

o meu olhar
é a tua web cam.


A imagem é de Valeriy Skrypka.                                                                                                                                                               

31 de ago. de 2011

e-mail




De: Dênis Rubra
Enviada em: domingo, 01 de janeiro de 2012, 00:01
Para: Leitor
Assunto: Re: Cadê o poema?


é que cês sabem, né?
o tempo tá corrido
muita coisa
muito trânsito

e aí, leitor
fiquei sem tempo
pra escrever
deixa pra próxima, belê?

um abraço,
dênis rubra.

31 de jul. de 2011

pernas




chegou a perna que partira

no verão que passou
a perna que correra
escorrida e corriqueira
e como o vento dançou
a perna cabreira do cabrito que berrou.

parta, perna
que é de tua natureza
espantar a natureza
com o que de ti ficou.

saiba, perna
que a velha natureza
renova a natureza
com o que com ti partiu.

perna podre
não se esqueça
que se esquece
que quem vai vai

para a puta que pariu.

29 de jul. de 2011

incompletudes




ora bolas quanto
pode ser o que não
é sendo simplesmente assim
e sendo tento plenamente
incompleto ser,
não sendo quando.

ser é não ser
e eu sou enquanto
                             clariceio
dilemas vis shakespearianos
em vida justa mas tão justa
que não me cabe, e me desboto
                          
pra ficar nu a costurar
uma vida sob medida
e vestir-me todo
de incompletude.

7 de jul. de 2011

estações




7 horas. cama-mesa. note que o note se ligou. corredor. a porta do banheiro se abriu. a face ante o espelho reconhece. conhece-esquece-escova. volta. abre imutável o armário que vê. veste sem vê uma roupa que se mostre fácil. jeans. o botão da camisa se fechou. e o note ligado se abriu. navegador. abre imutável o e-mail que lê. lido. botão-elevador-botão-porta-chico-botão-porta-calçada. cigarro-472-cigarra. calçada-portão-chico-crachá-botão-elevador-botão-porta. 10 horas, e o tempo se passou. e o tempo se repetiu.
repetição. 14 horas. escada-escada-corredor. arroz-feijão. oi-olá-cigarro-tchau. botões.
de repente, é a gente o teclado que escreve na tela aberta pelo computador. de repente, é a gente o chão pisado pelo corredor. de repente, é a gente o paralelepípedo marcando a calçada. é a gente o agente da passiva do mais que perfeito, de repente. é o cigarro que te fuma, o botão que te aperta. de repente, azar do espelho que te quebrou. de repente, a perfeição se confundiu, errou de estação e partiu daqui prouto lugar.

28 de jun. de 2011

há poema




há também poema
onde não há poeta
onde não há cidade
musa inspiração.
há poema no silêncio
na ausência de poema
na ausência da licença
poética onde não há
porquê se limitar
ou pedir espaço
para a falta do que não há.
para a falta do poema
que deixa de falar
do poema que não é poema
da cidade que não é cidade
da musa mousse de tristeza
da inspiração onde não há
poema que há de ser
fuga realidade.
há também poema onde não há
mas se não há não há
ah, caralho, confusão
poema que é poema não sabe falar
não sabe ser poema no que há
sabe ser poema no que não há
no que há de ser poema está
a fuga do há que será
                                   ou não será?

19 de jun. de 2011

repetira




ei poeta
de tantos suspiros
do beijo
de mais de mil anos
os efeitos
- seu verso tardio -
não servem mais aos meus planos:

your old time
cry and prize
curious eyes
                   nothing couldn't be cool
                   if you are the same trash.

ora, viu vinicius
e os suspiros de moraes
em face daqueles ais
só resta reinventar
a natureza do amor
vai se perder numa canção
de suspiros
e suspiros

mais suspiros:
                      ai repetição
ei poeta
de tantos suspiros
do beijo
de mais de mil anos
os efeitos
- seu verso tardio -
não servem mais aos meus planos:

your old time

cry and prize
curious eyes
                   everything couldn't be cool
                   if you is the same trash.

ora, veja vinicius
e os suspiros de moraes
em face daqueles ais
só restou reinventar
a natureza do amor
que se perdeu numa canção
de suspiros
e suspiros
mais suspiros
ai ai.



















15 de jun. de 2011

pqp



nunca soube não sei
não digo dizer segredo
o canto da sereia em comum
ulisses quem soube sem medo
não digo eu não posso mas grito:
oi solidão de cabrito

o medo de dublin partiu
foi pra grécia da pqp.

24 de mai. de 2011

black e berre




o poema está em qual das faces do papel
das telas dos vidros dos fatos.

o poema black berra
ante o marasmo dos tempos

vire a esquerda
acredite nos jornais

acredite na vida
neste mundo tablet.

só o poema ensina:
                               felicidade infinita não cabe

no mendigo sem perna na esquina
no encosto da via dos carros;

só o poema ensina
às telas dos vidros dos fatos

e o mendigo sem perna na via
perdido na face dos fatos,

qual face mentira fragmento
do poeta mendigo do tempo.

zuckerberg me seja gentil
dá-me a senha da face dos fatos.

17 de mai. de 2011

poeta ao mar




e a tempestade
de verso e fuga

e a marisia
da orla muda

ao menos sabe
a calmaria
           das ilusões

nada poeta,
que todo poeta,

involuntário se entrega
de cabeça aos tufões.

9 de mai. de 2011

a mariposa na sala de aula



o ópio do poeta passou
camões quem sabe passará
o quadro negro embranqueceu
osama, pobre, foi pra lá.

poderia até não existir
a calcinha rosa da menina à frente
mesmo castro não sabia
dessa gente, do carnaval.

dezenove não é vinte nem vinte um
cada tempo no seu século secular
quanta margem, quanto segredo
não se pode mesmo afirmar?

só a mariposa em seu sossego
voa livre
até morrer.



6 de mai. de 2011

papel-poema



como pôde a sua mão multiplicar
o cabelo pairar sobre a cabeça alheia
onde estou
onde estás?

estarão por acaso os meus fios
na pele de suas faces negras?
se há por aí os meus dedos,
                                           por aqui
o que flui agora nas veias?

o poema de tão muito perdido
fez-se tanto mas repentino
                                         num papel que rasgou-se de espanto.

2 de mai. de 2011

entardecer



a lagoa nadou
sobre nós
como brilhávamos
sobre o sol ofuscado
do entardecer

é tarde
para as tardes
no arpoador
é tarde
e o amanhã
se esqueceu

nas tardes
a lagoa se afogou,
morreu
o que nos fez nascer

17 de abr. de 2011

Corda




acorde
na corda
bamba da
vida.

se jogue
simule
faça, e cure,
ferida.

pule
da corda
firme da
esquina.

se cale
se fale
se ame

esqueça
se lembre
se came.

acorde
na corda
bamba da
vida

se deixe
não queira
se queira
se viva.

se foda
e fode
num fode,
querida.

e goze
acorde
na cama
da vida.

e chore
se pode
chorar
na avenida.

e chore
se mate
esqueça da
vida.

e volte
acorde
na corda da
vida.

e vide
a corda
que rege
a vida.

se bambe
se baste
se jogue
pra cima.

se vire
arranque
um pedaço
da vida.

se jogue
mergulhe
se afogue

e pare
respire
se sinta
querido.

se queira
não queira
da vida
o infinito.

se finde
entenda
que o fim
é finito.

se guarde
se corde
se bambe

acorde
na corda
bamba da
vida.

formei meu sound
do seu silêncio

meu ezra pound
e aznavour

pele seca
do seu suor
pele preta
mas incolor

um blues sem nota do rock'n roll
batuque pop do seu não vou

formei meu som
daquela cena
pornochanchada de um poema
de um poema que caducou.








3 de abr. de 2011

Acordar




deixo às canções
o tom desesperado
das manhãs
e a desarmonia
dos lençóis.

o espelho a revelar-se
ante os olhos
                      - a se acordar -
deixo o som
da cama ruída
deixo os sonhos
que não sonhei, deixo até

aquela coisa inexplicável que enche a alma
no primeiro segundo de pesadelo
                                                   - que é não dormir -

devidamente vivo
para morrer

10 de mar. de 2011

Puta abandonada




nas mulheres, a resolução é difícil, a execução é fácil
Lope Félix de Vega Carpio


serei tua puta efêmera
cálice torto e vazio
teus dentes sujos não sabem
o quanto os meus seios mordidos
aguardam pelados os teus peludos

vadia tua e nua
meu cheiro fino se perde
ante teu gozo perdido
vago incompleta nas ruas
na ausência dos teus pedidos

posso vender minhas curvas
tento esquecer teus gemidos
não posso mais ser prostituta
se parei
e parei só na sua esquina

28 de fev. de 2011

Velório



pedido:
se eu morrer,
deixe meu corpo perdido
banhado no mar atlântico sul.

bóio livre
pelo oceano

me salgo todo
em pleno mar

a qualquer hora,
temperado

nado de volta
e grito
           - não se assuste:

oi,
voltei pra te buscar

17 de fev. de 2011

31 de jan. de 2011

Ou





ser fraco
humano
forte pronto
à covardia.

a vida em desengano
engana a vida
ou
o tempo, quando passa,
se acovarda diante o precipício?

acerta quem erra sabendo
que no fim do penhasco
o sol não brilha?

erra quem acerta
o mar na escuridão
da orla muda?

ser forte
humano
fraco pronto
à tentativa

a vida engana o tempo
engana a vida
ou
o tempo é o criador
dos precipícios?

acerta quem pode
erra quem quer

a vida em perguntas
nunca será exclamação.


25 de jan. de 2011

Aviso





É que eu preciso dizer que te amo
Te ganhar ou perde sem engano

Cazuza e Bebel



Boca travada
Peito em batida
forte.

A poesia agora
é manifesto.

O corpo há tempo:
apenas gesto

(que fala em prol
das cordas vocais)

Gesticulação involuntária
Gritante o olhar
que sem engano, perde
ou sem engano, ganha

E dizer devagarinho
na batida
forte
do coração
em manifesto
poema e gesto
pela trava da boca sem cor
pelo aviso gentil
gesticulado:

ei, o amor chegou.

17 de jan. de 2011

De amor e de esperança, a terra desce




o espanto geral da nação
não é a solução.

é o brado retumbante
de um povo herói às margens
de qualquer rio transbordado.

é o sonho intenso, o raio vívido
o amor e a esperança
em terra que desce.

é a grandeza pela natureza
a beleza e força
espelhadas no futuro.

é o bosque, o campo
o seio da mãe gentil encharcado
o berço sem qualquer esplendor.

são os filhos do solo símbolo de amor eterno
os que pedem a paz agora, a glória como resultado.

o espanto geral da nação
não é a solução

entre outros mil,
o filho que não teme a morte
morreu sem ter tempo de temer.

a solução,
brasil,
é querer.

12 de jan. de 2011

O grito




escrevo um poema
que me corte a garganta ao recitá-lo
e sangre os ouvidos chegando ao fim
que grite aos carros, da janela:

ei, eu estou aqui!

a última lembrança
o derradeiro brilho no olhar
e vida em pele, carne viva
que possa dizer
(vocês podem me ouvir!)

:ei, eu estou aqui!

num milésimo de segundo
tudo vai, desmorona
vai, fica o mundo
para lembrar, relembrar:

ei, eu estou aqui!


um poema que habite a cidade vazia no mar
que fale
sem pestanejar
(eu não pestanejo!)

:ei, eu estou aqui!

o pingo da garoa na Índia
a formiga, incansável, a trabalhar
passarinho, cante comigo
e não desista!:

ei, eu estou aqui!

alguma palavra que faça ferida
que cure os males - pseudo males -,
de pseudo pessoas - em pseudo vidas -,
que não enxergam,
(elas não veem!)

:ei, eu estou aqui!

a vida em nuances percebidas
arte em fluxo livre
em fluxo pronto
em voz gritante:

ei, eu estou aqui!

escrevo um poema
que me escreve