12 de jan. de 2011

O grito




escrevo um poema
que me corte a garganta ao recitá-lo
e sangre os ouvidos chegando ao fim
que grite aos carros, da janela:

ei, eu estou aqui!

a última lembrança
o derradeiro brilho no olhar
e vida em pele, carne viva
que possa dizer
(vocês podem me ouvir!)

:ei, eu estou aqui!

num milésimo de segundo
tudo vai, desmorona
vai, fica o mundo
para lembrar, relembrar:

ei, eu estou aqui!


um poema que habite a cidade vazia no mar
que fale
sem pestanejar
(eu não pestanejo!)

:ei, eu estou aqui!

o pingo da garoa na Índia
a formiga, incansável, a trabalhar
passarinho, cante comigo
e não desista!:

ei, eu estou aqui!

alguma palavra que faça ferida
que cure os males - pseudo males -,
de pseudo pessoas - em pseudo vidas -,
que não enxergam,
(elas não veem!)

:ei, eu estou aqui!

a vida em nuances percebidas
arte em fluxo livre
em fluxo pronto
em voz gritante:

ei, eu estou aqui!

escrevo um poema
que me escreve

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