31 de jul. de 2011

pernas




chegou a perna que partira

no verão que passou
a perna que correra
escorrida e corriqueira
e como o vento dançou
a perna cabreira do cabrito que berrou.

parta, perna
que é de tua natureza
espantar a natureza
com o que de ti ficou.

saiba, perna
que a velha natureza
renova a natureza
com o que com ti partiu.

perna podre
não se esqueça
que se esquece
que quem vai vai

para a puta que pariu.

29 de jul. de 2011

incompletudes




ora bolas quanto
pode ser o que não
é sendo simplesmente assim
e sendo tento plenamente
incompleto ser,
não sendo quando.

ser é não ser
e eu sou enquanto
                             clariceio
dilemas vis shakespearianos
em vida justa mas tão justa
que não me cabe, e me desboto
                          
pra ficar nu a costurar
uma vida sob medida
e vestir-me todo
de incompletude.

7 de jul. de 2011

estações




7 horas. cama-mesa. note que o note se ligou. corredor. a porta do banheiro se abriu. a face ante o espelho reconhece. conhece-esquece-escova. volta. abre imutável o armário que vê. veste sem vê uma roupa que se mostre fácil. jeans. o botão da camisa se fechou. e o note ligado se abriu. navegador. abre imutável o e-mail que lê. lido. botão-elevador-botão-porta-chico-botão-porta-calçada. cigarro-472-cigarra. calçada-portão-chico-crachá-botão-elevador-botão-porta. 10 horas, e o tempo se passou. e o tempo se repetiu.
repetição. 14 horas. escada-escada-corredor. arroz-feijão. oi-olá-cigarro-tchau. botões.
de repente, é a gente o teclado que escreve na tela aberta pelo computador. de repente, é a gente o chão pisado pelo corredor. de repente, é a gente o paralelepípedo marcando a calçada. é a gente o agente da passiva do mais que perfeito, de repente. é o cigarro que te fuma, o botão que te aperta. de repente, azar do espelho que te quebrou. de repente, a perfeição se confundiu, errou de estação e partiu daqui prouto lugar.